Juazeiro do Norte, limites e contradições políticas.
As imagens aéreas trazem uma visão interessante da mancha das cidades. Apontam suas formas, o traço da composição das vias, monumentos que se destacam por seus tamanhos, a tendência da expansão e uma certa dimensão de grandeza, são também bons instrumentos de localização espacial dos objetos. No entanto, são instrumentos limitados para a compreensão da universalidade real, não permitem que apareçam as realidades sociais, os produtos do dia a dia vivido pela população inserida nesse recorte espacial. Politicamente, acredito que essa tem sido a visão de Juazeiro do Norte que predomina no debate ultimamente, uma visão a partir de um ponto de vista limitado, como se estivesse sendo visto de cima pelos que tomam as decisões, como se não tivesse coragem de se aproximar da realidade.
Juazeiro do Norte é, como todos sabem, a maior cidade do interior do Ceará, a terceira maior em população, a mais importante cidade da região do Cariri, um forte polo econômico, destacando-se em comércio, serviços e indústrias. Todas essas potencialidades são motivos de orgulho, mas são potencialidades que não são trabalhadas pela elaboração do poder público no sentido de trazer melhorias para a qualidade de vida da população local.
Uma leitura da realidade concreta da cidade nos revela enormes contradições: temos o maior centro de ensino superior da região e vergonhosamente a pior educação pública de responsabilidade municipal entre as 184 cidades cearenses. A cidade que se verticaliza para sua nova classe média não tem espaço para propostas de moradia popular, há deficiências básicas como calçamento em pedra tosca em inúmeras vias em vários bairros. O debate sobre infraestrutura é pobre e se apresenta como ação prática apenas com a medida de aplicar asfalto, seja na zona urbana ou na zona rural, educaram o povo a querer asfalto. Não há um debate educativo sobre espaços públicos de lazer e de cultura gratuitos, Juazeiro do Norte é uma cidade do consumo, a agenda está posta para quem puder financeiramente acessar os espaços, ficando a grande massa pobre, principalmente as juventudes, relegada ao contato com trocas de pouco valor educativo e de riscos sociais.
Temos uma classe política que está na contramão das potencialidades da cidade. São poucos os representantes do povo que possuem a capacidade de articular ideias sugestivas como respostas para os problemas locais. O que podemos esperar, por exemplo, do poder legislativo juazeirense sobre a triste realidade da população em situação de rua? Talvez doarem seus salários em sorteios, como tivemos recentemente. O que pode nos apresentar o poder executivo sobre medidas para resolver o problema da falta de medicamentos? Certamente podem querer apontar alguns servidores públicos como culpados pela falta de medicamentos, mas nunca assumem a própria (in)responsabilidade.
É preciso ser dito, ouvido e compreendido que nossos problemas decorrem das nossas escolhas políticas, que são sempre as mesmas, ora muda o nome, mas o mecanismo foi o mesmo. Ou mudamos nosso interesse e organização política, ou nada mudará para quem de fato precisa do serviço público municipal.
Tiago Pereira.
*artigo publicado no boletim Olhe para a Esquerda, em 3 de março/2025.
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