BALANÇO E PERSPECTIVAS DA ELEIÇÃO 2024, ESPECIALMENTE EM JUAZEIRO DO NORTE
Decorridos dez dias dos resultados das eleições municipais no Brasil e após as mais variadas ondas de emoções, acredito que agora é possível colaborar com algumas linhas na avaliação política sobre os resultados especialmente em nossa Juazeiro do Norte cenário das nossas vidas. Antes de me lançar na exposição das ideias quero agradecer a todos que de alguma maneira conviveram comigo os dias de campanha, aos que me receberam em suas casas e todos e todas que vibraram com nosso programa, com destaque a militância do meu partido -PT e da Federação Brasil da Esperança e ao nosso candidato - Fernando Santana que me confiou muitas tarefas, minha gratidão.
O que vimos nesse primeiro turno:
1-Preliminarmente, apontamos que o desempenho no primeiro turno confirma a necessidade de uma mudança urgente na linha do Partido e na linha dos governos Lula e Elmano. Os números (aproximados) são os seguintes:
*91 milhões de votos em candidaturas vindas das direitas, 22 milhões de votos para candidaturas lançadas pelas esquerdas;
*4.726 prefeituras conquistadas por candidaturas vindas das direitas, 740 prefeituras conquistadas por candidaturas lançadas pelas esquerdas, 248 são petistas. E no Ceará o PT ganhou em 18 cidades em 2020 e passará a governar 46 municípios ( resultados ainda do 1º turno) , e está disputando o segundo turno em Fortaleza e Caucaia;
*48.106 mandatos de vereança conquistados por candidaturas vindas das direitas, 10.308 mandatos conquistados por candidaturas lançadas pelas esquerdas.
*Passamos de 2.668 vereadores e vereadoras para 3.118, em chapas compartilhadas com PV e PCdoB na Federação Brasil da Esperança. Nossa votação para as câmaras municipais subiu de 5,7 milhões para 7,3 milhões.
2-.Há casos paradigmáticos, que merecem análise detalhada, como é o caso da derrota em Salvador e em diversas outras grandes cidades da Bahia; a derrota em primeiro turno em Teresina; o resultado eleitoral em São Paulo, onde elegemos no primeiro turno apenas três cidades, que somadas não chegam a 80 mil eleitores; a presença do PT, inclusive como vice, em chapas encabeçadas por partidos de direita; a anulação do Partido no Rio de Janeiro e em Recife, apresentada como positiva – em nome de derrotar a extrema-direita – mas que traz no seu bojo um desastre estratégico; o desempenho do PT no Rio Grande do Sul, em particular a relação entre as enchentes, a ação do governo federal e o resultado das eleições; e os desempenhos regionais do Partido, por exemplo na região amazônica.
3-Merecem análise detalhada, também, os resultados positivos obtidos já no primeiro turno. Ampliamos a votação das esquerdas em relação a 2020, embora em certos casos isso possa ser um efeito estatístico resultante do crescimento do eleitorado nacional. Elegemos mais prefeituras e vereanças do que em 2020, embora este crescimento tenha sido modesto. Ganhamos no primeiro turno em algumas cidades simbólicas, como Juiz de Fora e Contagem, Bagé e Rio Grande. Fomos ao segundo turno em Camaçari/BA, Caucaia/CE, Fortaleza/CE, Anápolis/GO, Cuiabá/MT, Olinda/PE, Natal/RN, Pelotas/RS, Santa Maria/RS, Porto Alegre/RS, Diadema/SP, Mauá/SP e Sumaré/SP. Elegemos ou projetamos novas lideranças, especialmente nas Câmara Municipais. E, mesmo onde perdemos, mobilizamos centenas de milhares de pessoas, que dedicaram parte do tempo de suas vidas para defender nossas bandeiras, nossas cores, nossa estrela. Apontar estas vitórias é importante, porque elas demonstram que nosso resultado – já no primeiro turno – poderia ter sido muito melhor do que foi. Mas, como já foi dito, é inegável que – quando consideramos o resultado do primeiro turno como um todo – as direitas foram vitoriosas.
Juazeiro do Norte, um caso para estudo permanentemente.
Mesmo contando com o apoio de Lula, Camilo e Elmano e com o apoio de uma frente ampla de aliados a candidatura petista representada pelo deputado estadual Fernando Santana não obteve vitória. O que faltou para um resultado positivo?
1- As vitórias e derrotas sempre têm muitas causas. Uma delas é a linha de campanha, é preciso fazer campanha com conteúdo político, dizendo o que defendemos e de quem iremos cuidar em nossos governos. Mais, no caso juazeirense é preciso reconhecer que o adversário em questão é um autêntico representante do bolsonarismo e que a exemplo das cidades de grande porte onde a direita obteve vitória em Juazeiro todas as forças conservadoras e de extrema direita estavam engajados no projeto . Gledson Bezerra conseguiu um trunfo histórico : ser o primeiro prefeito reeleito da cidade. Toda essa força que ele demonstrou na eleição de 2024 não se deve aos bons resultados ou entregas positivas de sua gestão, ele é na verdade o acumulo dos erros que as forças políticas locais vem desenvolvendo desse a eleição de 2020. Gledson passou os últimos três anos e meio sem ser questionado por nenhuma das forças que disputaram o processo eleitoral de 2020. Todo esse tempo ele protagonizou sozinho a pauta política da cidade. Bem verdade que algumas figuras da câmara tentaram fazer frente, mas logo foram desacreditadas e desconstruídas como força de oposição diante da população, ora por pouca ou nenhuma relação orgânica com a população ou pelo peso da imagem da câmara na opinião pública.
2- Precisamos reconhecer que a imagem da identidade da relação do candidato com a cidade não foi bem trabalhada. Perdemos muito tempo útil de campanha tendo que justificar que Fernando é juazeirense, que tem um histórico de relações com a cidade, que foi por duas vezes muito bem votado como deputado estadual e que inclusive articulou para a atual gestão muitos recursos, tudo isso para fazer frente ao discurso depreciativo dos bolsonaristas contra nosso candidato, dizendo que ele era de fora, que não conhecia a cidade... O povo juazeirense é movido por sentimentos de pertencimento local e já escolheu várias vezes prefeitos que não eram juazeirenses de nascimento. Mais dessa vez mesmo o candidato sendo natural do munícipio as fake news pesaram sobre o assunto, ao ponto de no último debate na televisão, portanto três dias antes da votação, Gledson ainda levantou essa questão como estratégia de ataque.
3- O arco de alianças foi necessário. Não foi fácil colocar a candidatura como viável e inclusive ficar a frente nas pesquisas , teria sido muito mais difícil se a base política do governador Elmano tivesse se dividido. Portanto, agora só aumenta a responsabilidade da articulação política do governador e do ministro Camilo com o grupo que apoiou o projeto, afinal estamos falando da maior e mais importante cidade do interior do Ceará, uma das mais importantes cidades do nordeste e que está entre as cem maiores cidades do país, Juazeiro do Norte é importantíssima para o tabuleiro político de 2026.
4- O uso das redes sociais é o grande calcanhar de Aquiles das forças políticas de esquerda. Hoje já sabemos que não temos como superar a direita no protagonismo das comunicações nas redes, mas não podemos continuar acanhados e repetindo as mesmas desculpas de 2016, 2018, 2020, 2022. Algo precisa ser feito para melhorar a comunicação do partido e seus quadros públicos com a população. Nesse ponto, a campanha em Juazeiro foi muito deficiente.
5- Mesmo não tendo vencido, o PT saiu muito forte com o resultado obtido, pois voltou ao centro da cena política local. Fernando Santana se consolida como líder local e regional, pois obteve 70.936 votos, tivemos também a vitória de três vereadores na câmara, a maior bancada eleita na história do partido na cidade. Cabe aqui destacarmos que o candidato Fernando cumpriu muito bem a missão que lhe foi confiada, foi um gigante.
6- Agora cabe cumprimos o papel de ser oposição. De nos tornarmos um partido do dia a dia da cidade, presente nos bairros, nas periferias, nas localidades rurais, junto do povo, organizando suas reinvindicações. Há muito trabalho pela frente, há muitas respostas a serem construídas.
Por Tiago Pereira.
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