Dez pontos para avaliação e balanço do processo eleitoral de 2022.

 


Decorridos mais de quinze dias do resultado do segundo turno onde o povo  brasileiro fez a escolha do Presidente da República e em alguns Estados escolheram também os projetos para governador(a), é tempo de lançarmos atenção nas análises dos resultados e projeções do futuro governo federal, pois mesmo com o choro e ranger de dentes de alguns, a transição já está em curso e Lula tomará posse no dia 1º de janeiro de 2023 como o 39º Presidente do Brasil.

1Vencemos! Derrotamos a extrema-direita, que tanta destruição causou, que tanto usou e abusou de todas as armas, legais e ilegais e que colocou a nação na mais profunda crise estrutural da nossa história. E bem sabemos o quanto foi difícil essa vitória, uma vitória com repercussões estratégicas, pois recoloca o Brasil como protagonista global, reassumimos o posto de líder e amigo dos povos da América Latina estamos trazendo a esperança de respostas para as necessidades do povo. Devemos comemorar sim essa vitória que tão bem foi recebida em todo o mundo. 

2- A conjugação de forças responsáveis por essa vitória no 2º turno foi em primeiro lugar nossa militância, que tomou as ruas em defesa do Lula, realizando atividades espontâneas que não eram apontadas pelas direção do partido nem eram assistidas em materiais. Por isso, é uma obrigação dirigir o mais profundo agradecimento a cada militante. Segundo, devemos agradecer aos trabalhadores e trabalhadoras que foram firmes na defesa do nosso projeto, pois foram os pobres, negros, mulheres, moradores das periferias, nordestinos, em fim, trabalhadores com consciência de classe que votaram no 13 em sua imensa maioria. Essa eleição foi um capitulo da luta de classes brasileira e dessa vez vencemos. 

3- Contudo, não devemos confundir análise com comemoração, nem estendermos demais nossas energias comemorando. Precisamos entender que na comemoração somos levados a exaltação das nossas fortalezas e ridicularizamos os inimigos. Mais agora precisamos construir analises sérias, que nos façam tatear o relevo desse território tão desafiador que será o de construir o terceiro ciclo do governo petista,  precisamos reconhecer nossas debilidades e os pontos fortes dos inimigos, só assim teremos condições de continuar lutando e vencendo.

4- Comecemos olhando com atenção para os números. Bolsonaro recebeu 49,10% dos votos válidos ou 58.206.322 votos, contra os 50,90% dos votos válidos ou 60.345.825 votos dados a Lula. Vencemos, mas por uma diferença menor do que a obtida em 2002, 2006, 2010 e 2014. Isso dá uma medida da dificuldade enfrentada e indica as dificuldades que enfrentaremos para poder governar e cumprir nosso programa. Ainda sobre os números não podemos deixar de considerar que  32.716.740 de brasileiros e brasileiras (20,91% do eleitorado apto, que ao todo soma 156.454.011 pessoas), não compareceram no segundo turno. Além disso, tivemos 3.930.765 votos nulos e 1.769.678 votos em branco. Quem são essas pessoas, que papel desenvolvem na sociedade?  São na imensa maioria trabalhadores pobres, desinteressados da política, logo , uma ausência que favorece aos interesses da burguesia - menos pobres participando da democracia.

5- Muitos se espantaram como um governo tão ruim, tão mal avaliado, que não teve êxito em nenhuma política pública e que ensaiava golpes, chegou tão perto da vitória. Nós não nos espantamos, porque temos as memórias das manifestações antipetista de 2013; as lições do golpe de 2016; lembramos da perseguição política e ilegal (operação lava jato, Moro, ministério público do Paraná, TF4...) contra Lula com sua prisão em 2018 ; a fraude da vitória construída com fakenews e facada em 2018 e o governo mais entreguista e antipovo... todas as forças que operaram esses momentos estavam somadas a Bolsonaro, tendo como combustível o neofascismo, as forças armadas, as polícias e as igrejas evangélicas.

6-Quem esqueceu desses fatos citados se deixou levar pelos números das pesquisas, esqueceram também a capacidade da extrema-direita de crescer muito na reta final, postura que vem se repetindo desde 2014. O que fica claro é a necessidade de nos mantermos atentos e mobilizados para defender a vitória, pressionarmos para um programa de governo popular que atenda a demanda imediata dos mais pobre. 

7- A extrema direita foi derrotada na disputa presidencial. Mas o conjunto das direitas foram vitoriosas na disputa do Congresso nacional. O PL, partido de Bolsonaro, elegeu 99 deputados federais. 23 a mais do que o que tem hoje, mesmo assim pedem a anulação da eleição questionando a segurança das urnas eletrônicas. A  federação PT, PCdoB e PV elegeu a segunda maior bancada na Câmara: 80 deputados. No Senado, apenas 27 vagas estavam em disputa. Das 27, 8 foram para o PL (vão ter 13 no total, constituindo a maior bancada), 5 para o União Brasil, 4 para o PT, 3 para o PP, 2 para o PSD, 2 para o Republicanos, 1 para o MDB, PSC e PSB cada. 

8- O PT teve sucesso para governo nos Estados: Bahia, Ceará, RN e Piauí, os mesmos que já governávamos, mostrando que a tática adotada pelo PT no Nordeste foi exitosa na disputa presidencial. Mais não temos governo nas demais regiões. O que se revela num enorme desafio para a construção politica nas eleições municipais de 2024. Precisamos fazer o esforço de entender também a correlação de forças das assembleias estaduais. 

9- As notícias dos trabalhos da equipe de transição trouxeram dois importantes acenos para a classe trabalhadora: 1- a retomada da política de valorização do salário mínimo, 2- a garantia do auxílio de R$ 600 reais em novo formato do bolsa família com repasse de R$ 150 reais para as famílias com crianças até 6 anos de idade e a confirmação da promessa de campanha de um ministério para atender os povo indígenas. 

10- Precisamos aguardar a montagem da equipe de governo , principalmente os nomes da equipe econômica para assim termos luzes sobre os rumos do programa de governo que precisará de nossas vozes organizadas nas bases, nas comunidades e nos movimentos sociais para participar dos espaços de consulta popular que o Lula prometeu reativar com as conferências e inovar com um orçamento participativo federal. 

*Obs: as linhas acima estão abertas a emendas e enriquecimentos.

Tiago Pereira.

@tiagopereiracariri

 

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